Mártin César Tempass
Resumo
Segundo Claude Lévi-Strauss, a culinária constitui um elo de passagem da etapa da natureza para o estágio da cultura. A partir da pesquisa etnográfica realizada entre os Mbyá-Guarani, o presente artigo analisa esta afirmação sob a luz da cosmologia ameríndia. No entanto, a dicotomia entre natureza e cultura não se aplica aos grupos indígenas, pois, para estes, as categorias natureza e cultura constituem um híbrido. E a este hibridismo podemos acrescentar também o domínio da sobrenatureza. E, em termos de análise, essa configuração hibrida não possibilita haver qualquer tipo de passagem entre um domínio e outro. Mas a passagem é possível entre as três possíveis condições de vida no cosmos: animalidade, humanidade e divindade. Os humanos podem fazer tanto a passagem para a animalidade quanto para a divindade, mas independente da direção da passagem, embora com condições diferentes no cosmos, da humanidade sempre se chegará à animalidade. Ou, nos termos de Lévi-Strauss, da cultura sempre se irá para natureza. Porém, em uma direção os ex-humanos controlarão os seres da natureza, na outra direção eles serão controlados na natureza. E isso não se trata apenas de uma peculiaridade dos grupos indígenas, podendo ser encontrada também nas sociedades ditas “modernas”, embora sob outras roupagens.
Texto completo: culinaria-indigena-elo-cultura-natureza
Fonte: seer.ufrgs.br/EspacoAmerindio/article/view/20874
Enviado pelo Prof. Dr. Rogério Réus
Coordenador do NETA/Núcleo de Etnologia Ameríndia/UFPel
Vice-Coordenador do NECO/Núcleo de Estudos sobre Populações Costeiras Tradicionais/FURG