Rita Amaral
Dra. em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo/NAU-USP
Introdução
Durante a sessão de defesa de minha tese de doutorado sobre as festas brasileiras, um dos aspectos mais notados e comentados com grande curiosidade pela banca foi o uso que fiz de dados coletados em fontes da Internet e de conversas e entrevistas realizadas em chats (conversas por computador, em tempo real) com a finalidade de atualizar as informações sobre as festas que estudei nas cinco diferentes regiões do país. Não se questionava a validade ou não do uso destas fontes, que a todos pareceu legítimo, mas compreender mais profundamente de que modo se insere um antropólogo no “campo” virtual, onde categorias básicas do entendimento humano como tempo, espaço, corpo etc, encontram-se “deslocadas” e as pessoas estão, de certa maneira, “homogeneizadas” em sua presença na tela do monitor do computador. Por esta razão, apresento neste artigo algumas idéias e informações sobre as condições de pesquisa utilizando computadores e a rede Internet.
Se muitos antropólogos ainda não consideram o computador como um instrumento de pesquisa, a maior parte de nossa “tribo” já utiliza com familiaridade seu computador pessoal como processador de texto e boa parte dela também como via de acesso à Internet para enviar mensagens eletrônicas (e-mails) para os colegas . Tem-se deixado, entretanto, de explorar os recursos do computador como instrumento de pesquisas, e não apenas para a organização e análise estatística dos dados que recolhemos em campo (quando dominamos a operacionalização dos programas -softwares- indicados para estas finalidades). O que pretendo levantar como tema de discussão aqui é o fato de que, devido à imensa versatilidade advinda não apenas da simplificação do uso dos programas, mas também das novas facilidades de acesso à rede Internet, os computadores podem e devem ser usados efetivamente para a realização de pesquisas qualitativas pelos cientistas sociais.
O reconhecimento da pesquisa qualitativa como uma atividade sistemática e o desenvolvimento de programas de pesquisa interdisciplinares têm chamado a atenção de alguns acadêmicos (especialmente norte-americanos, para os quais o acesso à tecnologia informática se deu bem mais cedo e certamente com custos muito menores), para o uso do computador como um auxiliar também nas pesquisas na área de antropologia e em sua publicação, especialmente nos últimos dez anos, com a expansão e popularização do acesso à Internet (Anderson, 1990; Bernard, 1994; Chesebro, 1989; Hudson, 1990; Jones, 1995) O tipo de dados (qualitativos) nos quais um pesquisador pode estar interessado (textos, falas, música, filmes, fotografias e outros tipos de comunicação) vêm se tornando cada vez mais digitalizáveis e, desse modo, passíveis de serem transmitidos via modem entre computadores, ou postados e capturados na rede Internet. Com isso, os computadores podem transformar, em alguns sentidos, o modo pelo qual a pesquisa qualitativa vem sendo feita e, até mesmo, sugerir novas pesquisas sobre o próprio uso da Internet como fonte de dados ou como espaço de relacionamento entre grupos.
A partir de minha experiência de pesquisa foi possível constatar que o uso do computador e da rede Internet pode ajudar a solucionar alguns dos problemas práticos durante as várias fases de uma pesquisa: desde a coleta de dados até a apresentação. Pode-se discutir se o uso do computador é possível na fase de análise, a mais árdua delas. Não creio que possa responder a esta questão neste artigo, uma vez que em minha pesquisa, esta fase não se fez, de fato, com o uso do computador, o que também não significa, segundo entendo, que não possa ser feito. É possível, por exemplo, pensar na utilidade da discussão de nossas conclusões com pesquisadores diversos via e-mail ou chat. Deixo em suspenso, portanto, esta discussão. Em outras fases da pesquisa, contudo, o uso do computador pode ser de grande ajuda e não deve ser desprezado.
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Fonte: www.aguaforte.com/antropologia/osurbanitas/revista/pesqnet1.htm