O que poderemos encontrar, nesta trajetória?
Encontrei essa matéria em gempo.luizaugustopassos.com.br/?page_id=90 e não poderia deixar de compartilhar com vocês.
Não se separam, de nós mesmos, o mundo, o(a) outro(a) educação, na ancoragem do corpo pensante [temas do segundo doutorado de Merleau-Ponty, em Psicologia] – que nos constituem ontologicamente como humanos que se fazem na medida que fazem o mundo, e na mesma medida que o mundo nos faz, dado que nos precede.
Ganha vida o limite epistemológico de poder em linguagem, expressar o mundo, os outros(as) e a nós mesmos.
Há uma gravidade que circula em nós do mundo e que nos toma como estofos de mundo, ao mesmo tempo que invadimos o mundo com nossa carnalidade, como estofo dele próprio.
Estudar Merleau-Ponty nos leva a duas coisas fundamentais: Tudo circula em tudo, sem que deixe de ser ela mesma. Há um continuum similar àquele da física, que faz com que nossa mundaneidade nos permita circular, no coração mesmo do universo, bem como na sua periferia. Estamos mergulhados no todo. Segundo, momento algum é possível compreender o mundo senão como mistério. E, portanto, como convite a existencializá-lo por nosso engajamento nele, numa relação dinâmica, mutuamente constitutiva, que não cessa em seu movimento de transformação.
Não há, no fim da viagem, um adquirido que não esteja em transformação constante. Ele testemunhará apenas uma expressão em vida de parte de uma realidade sempre ambígua, que nos remeterá a ter de iniciar de novo. Estamos diante de uma obra aberta que se realiza no ato mesmo de dar-se o tempo, e colocar suor e braços nela.
Não procure nada “concluído” ou “empacotado”, feriria a mais importante contribuição do pensamento do autor, um pensamento aberto, dinâmico em que as experiências de um corpo pensante se constituem a cada segundo, com novidade e com criação. Divida sua experiência, sua palavra que é expressão, constituição, e autopoiética, que nos gera conosco, em comunhão com o todo do universo e dos outros e outras.
Merleau-Ponty não ignora o que foi feito até então pelos procedimentos marcados pela cultura da modernidade, em primeiro lugar porque ela foi revolucionária e criativa, nos seus albores. Não deve ser repetida, e seria impossível fazê-la pulsar sob a vida neste tempo, que é um outro tempo. Ela sobreviverá, contudo, à bordo do nosso tempo, como cada tempo anterior que nos dizia respeito; e, também em cada tempo aberto à perspectiva do futuro e de (re)criação. Mas, antes de tudo nós somos o tempo. Toda temporalidade nos compromete com o passado, com o presente e com o futuro.
Não acredite no conhecimento esterilizado, sem máculas, sem consequências. Estamos no campo da interdisciplinaridade, independente do nome com que isso se possa chamar, como holismo, cosmodisciplinaridade, transdisciplinaridade, e todo e qualquer outro conceito que hoje empregamos que nos permite apalpar e expressar o diálogo entre saberes e práticas que não se bastam, que não tem propriamente limites. Somos uma interlocução, um quiasma dos tempos que foram, dos tempos das utopias e imaginários que movem o real, enfim de toda a interlocução, não apenas com o que contemos por sua materialidade, mas também com tudo o que é real do ponto de vista do imaginário e da linguagem, e que constrói entre nós “coisas” deste mundo. Vale aqui Clifford Geertz: “Pedras e sonhos são coisas deste mundo!” ( A interpretação das culturas. Guanabara, 1989:32).