Por: Pablo Rodrigues Dobke
Acadêmico do curso de Bacharelado em História/UFPel.
Os índios Pampeanos eram organizações de caçadores coletores com um vínculo de identidade entre si, que na maior parte delas, era denominada pelo ramo lingüístico Quíchua (ou Quéchua). Esses índios viviam no que hoje conhecemos como a República Oriental do Uruguai, parte do Pampa e do Chaco Argentino e o extremo sul do Brasil, onde hoje é o estado do Rio Grande do Sul. Daremos mais destaque as etnias Charrua e Minuano pela sua proximidade com a cultura platina, pelo mistério que ainda as envolve, e por influenciar na origem dos mais diversos costumes do povo Gaúcho.
Características gerais dos grupos:
Pelos poucos registros que restam, sabe-se que os Charruas eram uma etnia voltada a caça e a guerra, eram exímios cavaleiros, hábito que aprenderam tardiamente com os espanhóis. Não possuíam um chefe específico, respeitavam o mais idoso da tribo pelo seu conhecimento e vivência, assim que esse idoso viesse a falecer, seria eleito um outro. Quem fazia essa eleição eram os filhos do antigo cacique.
Os charruas tinham uma estatura média de 1,68m a 1,70m, apresentavam um rosto sisudo, com olhar bravo e valente, alguns possuíam barba para mostrar mais virilidade. As mulheres traziam adornos de pedras aos cabelos, mediam em média 1,65m e apresentavam um corpo robusto, provavelmente devido a força braçal de trabalho.
Os Minuanos igualmente aos Charruas eram grupos de caçadores coletores também voltados à caça de aves e animais silvestres, foi dos Minuanos que se tem o registro do uso das boleadeiras para a caça do avestruz. Os grupos Minuanos eram constituídos por associações de famílias e as decisões tribais eram feitas por um conselho de homens que tinham um poder relativo ao do cacique. Hoje em dia existem estudos que nos indicam um forte laço entre Charruas e Minuanos, acreditando que essa segunda etnia seria provida da primeira, essas indicações são baseadas nas inúmeras semelhanças apresentadas pelas duas etnias, tanto no que se refere a sua vestimenta, quanto a aparência, hábitos alimentares e rituais.
Crenças e rituais:
Dos charruas e minuanos no que se refere à mitologia e rituais, não se tem muita informação, o que se sabe é que para debelar ou aliviar as doenças, os Charruas em particular, mantinham a pratica da medicina caseira. Essa atividade era exercida tanto por homens como por mulheres, no entanto há relatos que dizem que essa é uma atribuição apenas das mulheres mais velhas (BECKER, 2002). O procedimento era: “chupar com muita força o estômago do paciente, assim extraindo-se o mal”, usavam também cinzas quentes nos doentes, como meio de cura. Podemos ter essas praticas, como sendo da ordem de um ritual, devido às características desses procedimentos, onde no caso da doença, estaria dada a descontinuidade em um determinado individuo, ou no caso de uma “peste” ou epidemia, em um grupo maior. Este ritual serviria exatamente ao propósito de voltar à continuidade, a saúde.
Quanto aos mortos, às poucas fontes falam acerca de “cemitérios”, que eram feitos geralmente em morros, fazia-se um buraco com pouca profundidade, onde colocavam o cadáver, depois cobrindo-o com pedras, terra ou galhos. Acima vinham os possíveis pertences dos defuntos, como as boleadeiras. A lança era cravada ao lado da “sepultura”, e o cavalo atado a uma estaca. O cavalo e os pertences eram deixados ali, simbolizando sua crença na vida após a morte, pois serviam para a viajem que o individuo iria empreender. Os mortos também passavam por um processo, em que o corpo era desossado, podendo se pensar em um sepultamento primário. O luto tem aspectos singulares nessas sociedades. Quando é morto o pai, o líder da família, os filhos, a viúva e as irmãs casadas, cortam um de seus dedos por cada defunto, começando pelo dedo mindinho. Cravavam-se a lança ou a faca de cana do morto, pelos braços peito e costas, como também ficavam por dois dias sem comer como forma de luto. O luto não era praticado pelo homem nem quando sua mulher, nem quando seus filhos morriam. Entre os Minuanos o luto era praticado pelas filhas adultas, pela morte de quem as criou, devido à entrega dos filhos nessas populações, após alguns anos de vida, a outro parente. E os homens ao invés de se cravarem a lança ou a faca, o faziam com espinhos de peixes. Suas cerimônias traziam sempre a mutilação dos sobreviventes (BECKER, 2002).
Alguns cronistas afirmam que eles não tinham religião, não podemos assegurar que tinham devido à escassez das fontes, no entanto essa crença na vida após a morte simboliza sua fé em alguma força maior, parece também que acreditavam em ressurreição da alma e em sua imortalidade (SERRANO apud BECKER, 2002). Outro fator que pode influenciar nessa hipótese e desconstruir esta imagem pré-concebida são as chamadas bebedeiras, que podem ser consideradas cerimônias religiosas, onde evocavam um ser superior, que era chamado por alguns jesuítas de “Diabo”. Além dessa “divindade” acreditavam na existência de um espírito maléfico ao qual atribuíam todas as doenças e desastres, este era denominado Gualiche. O ser superior das bebedeiras e Gualiche representariam os não-humanos dessa sociedade. Havia também feiticeiros, que agiam sobre as forças da natureza, faziam chover, provocavam tormentas, despertavam a ira das feras e faziam transbordar arroios e rios (SERRANO apud BECKER, 2002).
Conclusão
Ainda hoje é muito difícil fazer uma analise mais profunda sobre as etnias Pampeanas e mesmo pelo pouco material deixado por esses antigos habitantes dos campos sulinos, podemos observar que muitos traços de sua cultura ainda permanecem vivos nos costumes do gaúcho, como os próprios adornos da vestimenta usados até hoje, como a Palla, o Chiripá, as malas de garupa, além dos hábitos alimentares, como o de comer carne assada, reunir-se a beira do fogo de chão sentado nos calcanhares, o respeito pelo idoso (assemelhando-se ao costume Charrua de eleger o mais velho como chefe). O caráter honroso e guerreiro, dessas populações, foi o principal forjador da identidade do homem do pampa. Sendo por isso, digno de mais pesquisas e estudos, para que possamos ressaltar essas etnias “madres” dos povos meridionais da América do Sul.