Por: Cátia Simone Silva
Discente Bacharelado Antropologia Social e Cultural UFPel
Agora de férias, estou re-lendo meus antigos trabalhos para o curso, e encontrei esse trabalho, desenvolvido para a disciplina de Etnologia Afro-Americana I, no terceiro semestre do curso, é um pequeno ensaio sobre o pensamento de Gilberto Freyre e sua obra: Casa Grande & Senzala, onde o autor refere-se à presença negra na constituição da nacionalidade brasileira, incidindo, preferencialmente sobre os fatores que favoreceram a miscigenação no Brasil, e como foi, simultaneamente operado o conceito de cultura com metáforas raciais, além de abordar as características do sistema colonial escravocrata e a forma como estas se manifestavam no cotidiano das interações entre sonhor(a) / escravo(a) especialmente nas questões sexuais, e as distintas visões que emergem sobre o negro no transcorrer da sua obra. Abaixo está o inicio do trabalho, após encontra-se o link para visualiza-lo na íntegra, boa leitura!
Gilberto Freyre embora seja um culturalista seguindo Franz Boas, aprende a diferenciar o conceito de raça e cultura, mas não consegue se desvencilhar das questões biologicistas de concepção de raças, e através do meio físico, ou seja, de questão geográfica, é que Freyre consegue fazer esta junção entre cultura e raça, e tenta romper com o racismo da literatura da época, consagrando-se por tentar recuperar positivamente a contribuição da cultura negra para a sociedade brasileira.
A questão do “problema racial”, demonstrado por Ricardo Benzaquen de Araújo, em Corpo e Alma do Brasil, com os marinheiros brasileiros no Brooklin vistos por Gilberto Freyre, demonstra claramente a visão racista do próprio Freyre e dos intelectuais da época, enfatizada sobre a mistura das etnias e da miscigenação do país.
Existiam autores que achavam que a miscigenação levaria a esterilidade, senão biológica, mas certamente cultural, impossibilitando a sociedade de ascender à civilização. Outra hipótese sobre a miscigenação é a de que serviria positivamente como um mecanismo capaz de garantir a extinção da questão racial e o consequente ingresso na trilha do progresso, envolvida em um processo de “branqueamento”, onde Skidmore entendendo como solução, assegurava que haveria um predomínio dos caracteres brancos sobre os negros, levando a imaginar a extinção da herança negra no Brasil.
Em uma terceira posição, Freyre distingue raça de cultura e valoriza com igualdade as contribuições do negro, do português e em menor escala do índio para a formação da sociedade brasileira. Para Freyre, a miscigenação entre negros, índios e portugueses na sociedade brasileira é visto de uma forma positiva, ou seja, parecia lançar bases definitivas a uma verdadeira identidade coletiva. No entanto enquanto o autor fala de uma contribuição positiva da miscigenação, se afasta do racismo e admite a relevância de outras culturas, é criticado por demonstrar que a mistura deu-se em harmonia, não relatando a exploração, os conflitos, e as discriminações que ocorreram. Ao invés, denomina “democracia racial”, ou seja, a miscigenação dando-se de uma forma harmônica no qual senhores e escravos se confraternizariam embalados num clima de pura intimidade e mútua cooperação.
Um dos fatores apontados pelo autor para explicar a miscigenação é o Estado buscando uma democracia política racial, ou seja, os colonizadores viam na miscigenação uma forma de acelerar o processo populacional, também pelo fato do português ter uma pré-disposição ao hibridismo, além de uma mobilidade hereditária, comprovando a habilidade dos portugueses de se adaptarem nos trópicos.