Índios viajam dias e esperam semanas para ter consulta médica na Amazônia

Expedicionários da Saúde são aguardados pelos sateré-mawé.
Doutores montam até um centro cirúrgico na aldeia.

Quando os médicos dos Expedicionários da Saúde chegam a São Pedro do Andirá (AM) o movimento de barcos é grande. Os índios sateré mawé vêm de todas as aldeias, algumas tão distantes que ficam a mais de dois dias de viagem. Todo o esforço vale a pena.

“Estamos esperando desde o mês passado. Estávamos ansiosos”, diz o agente indígena de saúde.

Médico em terras indígenas é uma raridade tão grande que quando aparece todos sabem reconhecer a importância do momento. Se o médico é difícil, o que dizer de um centro cirúrgico, dentro da aldeia, no meio da floresta? Mal dá para acreditar.

Odinoele é uma menina satere de 9 anos de idade e acaba de passar por uma cirurgia. Os médicos retiraram um cisto que tinha nas costas.

“Fazia tempo que queria que ela operasse. Desde pequeno, desde criança, na aldeia. Agora deu certo. Estou emocionado. É a primeira vez que eu vejo minha filha assim”, conta o pai da menina.
O centro cirúrgico está lotado; duas cirurgias ao mesmo tempo.

“Nossa intenção não é fazer medicina de pobre para pobre. É fazer medicina de alta qualidade para o povo indígena. Fazemos mais ou menos com a mesma qualidade que fazemos as cirurgias em São Paulo. Traz todos os equipamentos para fazer isso o melhor possível”, explica o presidente e fundador Expedicionários da Saúde Ricardo Afonso Ferreira.

A ginecologista Magda Ricci é a única ginecologista da expedição. A sala de espera está lotada. Quem não conseguiu lugar espera a vez debaixo da mangueira. No consultório, ginecologia em português e em saterê.

“A maioria nunca passou em um ginecologista na vida. O câncer de colo é três vezes mais frequente do que a média do Brasil. Mas, nós sabemos que tem focos de hepatite B, com adultos com 35 anos morrendo de cirrose. Muita gonorréia e tem muita doença inflamatória pélvica. O que eles falam é que os homens descem para cidade para comprar as coisas e lá eles entram em contato com as mulheres e trazem as doenças”, explica a ginecologista Magda Ricci.

Onde Magda atende as mulheres fica o único posto de saúde da região. Nesta calha de rio não tem nenhum médico, apenas quatro enfermeiros.

“Dentro da saúde indígena no Brasil nós temos 350 médicos trabalhando. Agora, na região da Amazônia é mais difícil. Temos aproximadamente 20 médicos em todo o Amazonas”, contabiliza Wanderley Guenka, do Departamento de Saúde Indígena/Funasa.

Quando Ricardo, ortopedista e o primo dele, Martin, anestesista, criaram os Expedicionários da Saúde, em 2002, eram apenas quatro médicos. Hoje são 23 médicos, seis enfermeiros especializados, dois profissionais de esterilização e nove pessoas na equipe de logística. Todos são voluntários.

Índios aprendem com pessoas da cidade, pessoas da cidade aprendem com índios, todas as tardes os médicos e enfermeiros dos Expedicionários da Saúde se entregam ao banho de rio, costume indígena. A diferença é que branco toma um banho por dia, índio toma três. Problema: os índios aprenderam com os brancos a usar nesses banhos sabão de pedra e isso está virando uma questão de saúde.

Fonte:  www.globoamazonia.com

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