Jornais do século XIX viram lixo em Pelotas

Um grupo de professores está pensando em lançar um protesto contra isso e precisamos do apoio de vocês. Vamos colher assinaturas até segunda, 23 de maio, no prédio do ICH/ UFPel. End: Rua Alberto Rosa, 154,  Centro Pelotas – 96010-770 Tel/Fax: 55 53 32786765.

Acho que todos já ouviram falar do que aconteceu na biblioteca pública recentemente, há pouco mais de 15 dias, em fins de abril/inícios de maio, a cidade de Pelotas, que até agora tinha se caracterizado por buscar a preservação da história e da cultura da cidade e do país como um todo, foi palco de uma situação completamente absurda e injustificável: a direção de sua biblioteca pública, que é gerida por uma associação privada, simplesmente enviou para reciclagem, uma parte importante da história da cidade e da região!

Livros, jornais, diários e mais monografias e documentos impressos (não se sabe exatamente o total do que foi descartado, nem quem definiu o que seria jogado fora), mas enfim, o suficiente para encher mais de um caminhão pequeno, foi enviado para recicladores. E só não foi parar no lixo mesmo porque, num episódio rocambolesco e pouco explicado, foi “salvo” por um dono de sebo, que imediatamente o comprou e o pôs a venda como uma mercadoria qualquer. Alguns desses exemplares ainda se encontram em sebos da cidade e podem ser conferidos até pelo twitter de alguns pelotenses. Seguramente, este dono de sebo deve ter ampliado seu patrimônio em muito, devido apenas ao que, pelo alto, se soube que foi descartado.

Entre eles, por exemplo, uma das únicas, senão a única coleção do jornal A Federação do ano de 1904. Vários outros anos inteiros deste jornal também foram literalmente jogados fora, sob a justificativa de “estarem duplicados”. Mas a catástrofe cultural vai muito além, pois todos os jornais encadernados, que eram duplos, e que se encontravam no porão da biblioteca, como os jornais Correio Mercantil, Opinião Pública, Diário Popular, também tiveram o mesmo fim. Estes são alguns dos jornais pelotenses mais importantes do XIX e XX séculos, e ficamos agora reduzidos apenas a sua coleção em uso, e cuja digitalização tem sido protelada por interferência direta da própria diretoria. E o que se fará quando estes jornais, pelo uso, se desmancharem? Chorar, pelo visto…..

O raciocínio simplista e redutor de que “eram duplos” e poderiam ser descartados, não convence ninguém, pois todos podem se perguntar por que não foram trocados com instituições congêneres, ou doados para uma outra instituição do estado, como reza seu estatuto de  1991, que em seu artigo segundo, item b), diz que a biblioteca “poderá permutar livros e objetos com outras instituições que estejam de acordo com as suas finalidades”. Quanto a alguns estarem em mau estado, ora, para quem conhece, sabe que há várias técnicas de recuperação de documentos que poderiam ser tentadas, com um pouco de esforço na busca de financiamento.

Esta mensagem, além de denunciar este fato, pretende provocar alguma reação, por parte não só da comunidade técnica e acadêmica interessada na preservação da história do país, mas dos próprios pelotenses, que até agora estão assistindo esta situação estupefatos, mas em silêncio, um silêncio que pode passar por aprovação e gerar a reincidência deste tipo de atitude.

Por: Profª. Beatriz Ana Loner
Departamento de História e Antropologia

Enviado pelo: Prof. Dr. Pedro Sanches – Museologia/UFPel.

4 comments

  1. Caro Pedro e demais colega,

    Fico estupefado com a atitude da direção da BPP em jogar toda essa documentação no lixo. Mais uma vez uma atitude dessa direção que denota o alto nível de irresponsabilidade e descaso com o patrimônio histórico. Mas, além de apoiar a causa em protesto contra tal atitude, gostaria de relembrar e denunciar um caso conhecido por muitos que reforça a interpretação sobre o descaso.
    Durante um estudo particular que realizei no ano de 2006 no Museu da BPP tive a oportunidade de constatar uma grande “perda” de materiais arqueológicos pré-coloniais, etnográficos e etno-históricos. Tive acesso ao livro tombo da BPP onde foi registado o acervo original do Museu. Em algum momento recente aproximadamente 50% deste material original foi “perdido” sem a menor explicação e sem que ninguém tenha se dado conta.
    Neste sentido, nota-se que o descaso com o patrimônio histórico e arqueológico vem sofrendo profundas perdas por conta das atitudes da direção da BPP, o que nos força a tomar uma atitude. Inicialmente como protesto, mas, sugiro eu, levarmos essa situação para ser averiguada pelos órgãos de fiscalização competentes (IPHAN, FUNAI e MP).
    Creio que seria intressante chamarmos uma reunião entre os interessado e indignado com a situação, que, ao meu ver, já passou dos limites do bom senso. Não creio que um protesto simples via e-mails tenha grandes resultados. Creio que precisamos ter uma atitude mais contundente. O que acham?

    att.

    Rafael Milheira

  2. Concordo com a proposta do Prof. Rafael. Aproveito para relatar que o assunto foi levantado durante a Semana de Museus pela profa. Maria Letícia. Os presentes consideraram a necessidade de levar o caso ao MP e a outras instâncias. Precisamos mesmo agir incisivamente porque, como o Rafael bem testemunhou, não se trata de uma ação isolada, mas de uma prática cotidiana e datada de muito tempo. Eu próprio estive no arquivo da câmara que se encontra sob a guarda da Biblioteca Municipal e constatei a degradação acelerada do acervo… A reunião não pode tardar. Abraços,
    Pedro.

  3. Lastimável, mas … mais uma coisinha a se por na lista, a não deixarmos para amanhã!

  4. MARTA GONÇALVES disse:

    Caro colegas só agora estou tomando ciência deste desastre, podem me informar em que pé está ou ficou? Precisando de apoio pode contar comigo aqui em Recife-PE. Sou professora, mas no momento não estou exercendo a profissão. Fiz Ciências Sociais na UFPE e Pós-graduação Ensino em História. Meu trabalho foi baseado na temática indígena no livro didático. E tenho muito a aprender porque sei que não sabemos nem ao menos pronunciar o nome dos povos indígenas! Abraços Marta

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