Será no dia 23 de novembro, sexta-feira, as 19hs no NUPAUB/USP
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O livro “Aguas da Coreia”: uma viagem ao centro do mundo numa perspectiva etnooceanográfia” é uma das poucas publicações em Oceanografia Humana ou Social do Brasil e, com certeza, o primeiro livro de etnooceanografia do planeta. Em outros países algumas universidades, como a Universidade de Toronto, a Universidade de Puged Sound e a Universidade de Washington, só para citar algumas, tem fomentado o diálogo das áreas clássicas da Oceanografia com as Humanidades, sobretudo com a sociologia e a história da ciência, embora ainda aquém do necessário. No Brasil, este esforço de diálogo entre as humanidades e a oceanografia ainda tem se restringido apenas ao curso de oceanografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e às disciplinas esparsas oferecidas na grade curricular de alguns outros cursos de oceanografia. Deste modo, “Águas da Coréia…”, com sua proposta de diálogo entre a etnografia e a oceanografia, coloca o Brasil na vanguarda do desenvolvimento da Oceanografia Humana ou Social. Dentro desta proposta, são descritas no livro a tomada de decisões de uma das comunidades de pesca tradicionais do estuário da Lagoa dos Patos, a comunidade da Coréia, ao se inserir adaptativamente em cenários ecológicos percebidos. Estes cenários ecológicos são construídos cognitivamente pelos pescadores com base no seu conhecimento ecológico tradicional de ventos, de correntes estuarinas, da lua e de ciclo migratório de recursos pesqueiros, no seu calendário tradicional e nas suas relações sociais comunitárias. Por fim, a partir das tomadas de decisão dos pescadores da referida comunidade com base no conhecimento ecológico tradicional, emerge o fluído território tradicional de pesca. Com os resultados e a discussão trazidos pelo livro, subentende-se que a política de manejo de recursos pesqueiros através da formulação autoritária de períodos de defeso contraria o decreto 6040 de 2007, em que o governo brasileiro reconhece o direito ao território de populações tradicionais (entre elas os pescadores artesanais), e o artigo 8J da Convenção Internacional sobre Biodiversidade (CDB) de 1992, onde o Brasil ratificou o reconhecimento e a proteção do conhecimento tradicional de populações tradicionais, porque, segundo a perspectiva trazida pelo livro, o território é conhecimento e o tempo, que também é conhecimento, é uma das dimensões do território tradicional.
Por: Gustavo Moura