Ministério da Cultura da Colômbia reconhece patrimônio imaterial no Rio Pirá Paraná

O reconhecimento é motivo de orgulho para as cerca de duas mil pessoas pertencentes a oito grupos étnicos que habitam a Bacia do Rio Pirá Paraná, assim como é uma estratégia efetiva para a defesa de sua cultura milenar e de seu territorio, diante de ameaças diretas como a mineração.

Afluente do Rio Apapóris (Bacia do Japurá-Caquetá), o Rio Pirá Paraná está situado em território colombiano, próximo à fronteira com o Brasil. É habitado tradicionalmente por populações indígenas da familia Tukano Oriental, fazendo parte de um sistema sociocultural que se estende por uma região mais ampla, que inclui a Bacia do Rio Uaupés, dividido entre Brasil e Colômbia. Existem intercâmbios das associações indígenas e seus parceiros nos dois países, em temas como educação indígena, manejo ambiental e conhecimentos acerca do território. Atualmente, busca-se uma aproximação, incluindo também ministérios da cultura de ambos os países, para o reconhecimento e mapeamento das rotas de origem desses povos. A iniciativa colombiana avança nesse sentido.

Hee Yaia – Patrimonio Cultural Inmaterial de Colombia from Quiasma on Vimeo.

Hee Yaia – Patrimonio Cultural Inmaterial de Colombia from Quiasma on Vimeo.

Por meio da Resolução L690 de 5 de agosto passado, o Conselho Nacional do Patrimônio do Ministério da Cultura da Colômbia aprovou o Plano Especial de Salvaguardas apresentado pela Associação Indígena Acaipi para a proteção do território – a Bacia do Rio Pirá Paraná e seu Conhecimento Tradicional (He Yaia Keti Oka: o Conhecimento das Onças de Jurupari para o Manejo do Mundo)- para “fortalecer os sistemas de governo e cura tradicional como expressões de conhecimento das comunidades, para a proteção e cuidado do seu territorio e bem estar do povo do Pirá Paraná”.

O Ministério da Cultura da Colômbia promulgou a política indicativa de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (PCI) em 2009 e, posteriormente, o Decreto nº2941 (2009) e a Resolução nº330 (2010), que detalham as normas estabelecidas pela Constituição Política da Colômbia e pela Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco (2003). Seguindo esses procedimentos, a Voz e o Rio do Jurupari foram incluidos na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial (LRPCI) da Colômbia.

Este reconhecimento é motivo de orgulho para as cerca de duas mil pessoas pertencentes a oito grupos étnicos que habitam a Bacia do Rio Pirá Paraná, assim como é uma estratégia efetiva para a defesa de sua cultura milenar e de seu territorio, diante de ameaças diretas como a mineração. Por outro lado, se espera que a inclusão desta manifestação cultural na LRPCI contribua para gerar mais consciência entre os povos indígenas da região, sobre a importância não somente de manter os legados culturais e espirituais que ainda possuem, mas também de recuperar aqueles que estão desaparecendo. Da mesma forma que os governos e a sociedade nacional em geral vêm compreendendo a importância de dinamizar estratégias múltiplas e interculturais direcionadas à conservação da grande diversidade cultural e biológica desta região. “É nesse contexto que nós, os indígenas da região do Pirá Paraná, apresentamos parte dos nossos conhecimentos tradicionais para o ‘mundo de fora’, vislumbrando uma aproximação respeitosa com os processos de conservação ambiental do mundo ocidental e com a esperança de contribuir para a construção de mecanismos que garantam o conhecimento e respeito das nossas culturas e territórios” , disse Roberto Marín, indígena barasano, líder do proceso organizativo da Acaipi.

Os resultados alcançados pela Acaipi foram concebidos com o apoio e a assessoria da Fundação Gaia Amazonas, uma organização da sociedade civil que completa quinze anos de acompanhamento das organizações indígenas da Amazônia colombiana. E dessa forma pretende recriar um futuro que permita por um lado mudar organicamente as situações desfavoráveis e, por outro, manter a identidade cultural dos legados ancestrais que lhes permitiu permanecer como culturas indígenas até os dias de hoje.

Por Nelson Ortiz, da Fundação Gaia Amazonas (Colômbia), especial para o ISA
ISA, Instituto Socioambiental.
www.socioambiental.org

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