O Projeto UNESCO

Por: Cátia Simone Silva
Discente em Bacharelado de Antropologia Social UFPel

Nos anos de 1950 e 1953, a Organização das Nações Unidas para a educação, Ciência e Cultura (Unesco) patrocinou uma série de pesquisas sobre as relações raciais no Brasil. As investigações foram desenvolvidas em regiões economicamente tradicionais, como o Nordeste e em áreas modernas localizadas no Sudeste. Não apenas gerou um amplo e diversificado quadro das relações raciais no Brasil, mas também contribuiu para o surgimento de novas leituras acerca da sociedade brasileira em contexto de acelerado processo de modernização capitalista.

O antropólogo, Arthur Ramos (1948), reiterava que o Brasil era um “laboratório de civilização”. Apesar da crença do mito de “democracia racial”, ele não deixou de reconhecer as profundas desigualdades entre brancos e negros, bem como a existência do “preconceito de cor”. Arthur Ramos ressalva a importância de uma análise sistemática sobre os diversos grupos raciais e étnicos, tendo em vista os processos de mudanças culturais que os mesmos passaram.

A escolha do Brasil guarda íntima ligação com os acontecimentos internacionais da época, fim da Segunda Guerra Mundial e os resultados catastróficos do holocausto, que fomentaram a criação da Unesco. Ela tinha uma perspectiva igualitária e universalista, estimulou o conhecimento científico a respeito do racismo, abordando as consequências e as possíveis formas de superação do fenômeno. A escolha do Brasil se deu devido à existência de um ambiente de cooperação mútua entre raças e grupos étnicos, com o objetivo de oferecer ao mundo uma nova consciência política que primasse uma harmonia entre as raças.

O motivo da escolha cair no Brasil fora porque autores como Gilberto Freyre e Arthur Ramos em suas literaturas falavam de uma “democracia racial”, ou seja, para esses autores existia aqui uma harmoniosa relação de escravidão, diferente dos USA, onde a segregação racial era violenta. No entanto, com o andar das pesquisas, os cientistas sociais brasileiros e estrangeiros foram confrontados com outra realidade, onde a relação que prevalecia entre as raças era de desigualdades sociais.

O Projeto Unesco contemplaria de início apenas a Bahia, da qual se destacava um exame da forte cultura africana, não apenas nas comunidades rurais, mas também em Salvador. Na Bahia, o cenário parecia adequado as pesquisas da Unesco por adequar-se a imagem do Brasil de uma democracia racial. Diversos pesquisadores estrangeiros viam como um lugar privilegiado em termos de convívio entre as raças. Wagley sugeriu também a investigação sobre a cidade de Salvador que ficaria sobre o comando do médico-antropólogo Thales de Azevedo, um dos coordenadores do projeto na Bahia. No entanto, os objetivos da investigação se ampliaram graças, sobretudo a atuação de Charles Wagley, Costa Pinto, Roger Batisde, Ruy Coelho e Otto Klineberg, acrescida da visita de Alfred Métraux no final de 1950, o qual observava que os estudos sobre São Paulo seriam ótimos para alterar aquela imagem talvez otimista que faziam do problema racial brasileiro.

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