Os incas – "os filhos do Sol"

O império Inca e as cultura ou civilizações que o precederam desenvolveram-se nos Andes Centrais.

Tanto os altiplanos andinos como o litoral do Pacífico já eram habitados por vários povos ou culturas, desde milênios antes de nossa era. Tinham domesticado várias plantas, levavam uma vida sedentária e já construíram casas de paredes de pedra, templos e cerâmica de grande estilo artístico.

Entre essas antigas culturas dos Andes Centrais e do litoral, destaca-se a de Chavín, situada nas teras altas do norte do Peru, onde ergueram um magnífico centro religioso, por volta de 1000 a. C. A influência dessa cultura ampliou-se consideravelmente sobre outros povos da região, no período compreendido entre 1000 e 500 a. C.

Várias outras culturas desenvolveram-se tanto no litoral do Pacífico como nos altiplanos: em Paracas, Ica, Nazca, Chimu, Tiahuanaco (no Lago Titicaca) e outros.

O desenvolvimento dessas várias culturas e os contatos entre elas explicam o processo civilizatório dessa área.

Os contatos culturais enriqueceram esses povos. Desenvolveram várias técnicas de cultivo, de construção, de escultura e de administração.

Até 1438, os incas dominavam uma pequena área nas proximidades de Cuzco. Eram agricultores das terras altas e pastores de lhamas.

Tornaram-se um povo de conquistadores e, por votla de 1470, seu império estendeu-se de Quito ao Lago Titicaca. Em 1525, dominavam os territórios da Colômbia ao Chile central e norte da Argentina.

Seu império era imenso. Estendia-se por uma distância de 5.200 km e atingia altitudes de até 4.000 metros na Cordilheira dos Andes. A capital do império foi estabelecida em Cuzco, no Peru, a 3.000 metros de altitude, que à época da conquista espanhola devia possuir, juntamente com as aldeias circundantes, cerca de 200.000 habitantes.

Para manter esse vasto império unido, a civilização incaica desenvolveu um grande senso de organização e administração, e, segundo os estudiosos, foi um dos impérios mais integrados da história.

A capital, Cuzco, estava unida por um eficiente sistema de estradas ou caminhos às mais distantes áreas do império. Dessa forma, podia-se controlar e fiscalizar comunidades próximas e distantes, além de distribuir as colheitas.

Geograficamente, o império foi dividido em quatro partes. Cada uma delas se dividia em unidades sucessivamente menores, contendo idealmente 10.000, 5.000, 100, 50 e 10 chefes de famílias.

Nesse vasto império, o que tornou possível a integração política estável parece ter sido uma série de procedimentos administrativos inteligentes, em que se destaca a incorporação de chefes de comunidades conquistadas à equipe administrativa do império. Além disso, os filhos dos chefes de comunidades conquistadas eram levados a Cuzco e educados ao lado de jovens pertencentes à nobreza inca. Tal procedimento pode ser entendido como uma estratégia para doutrinar cultural e politicamente os jovens, além de representar uma garantia para o bom comportamento de seus pais.

Outra prática que demonstra a capacidade administrativa e, por conseguinte, de dominação inca, foi a aceitação de costumes de comunidades vencidas, desde que não representassem  ameaças à integridade do império. Com isso evitavam fontes de insatisfação, que poderiam levar à divisão e animosidades.

Possuíam contadores treinados que realizavam o censo e o mantinham sempre atualizado em cada região do império, de modo que, quando necessário, se podiam requisitar trabalhadores para certas atividades.

Para manter as populações não camponesas, existia um imposto pago em espécie ou em trabalho sobre o ayllu. Este correspondia a uma unidade administrativa elementar, formada por um grupo de pessoas unidas por parentesco. No ayllu, a terra não pertencia ao grupo familiar, mas estava dividida em três partes: uma pertencia ao imperador, outra aos deuses e a terceira ao grupo.

A produção excedente, dentro da estrutura administrativa inca, era estocada em armazéns distribuídos por todo o império. Quando a colheita de uma região não era suficiente para atender à população, em virtude de problemas de ordem natural (solo ou clima), o estoque de alimentos era distruído oficialmente.

Essa distribuição de produtos da agricultura explica por que, entre os incas, o comércio e o sistema de mercado com moeda não foram implantados (ao contrário das culturas da Mesoamérica). Na realidade, o Estado altamente autoritário e centralizador não possibilitava o exercício da propriedade privada nem a acumulação de riqueza. Assim, o império inca desenvolveu uma organização social de base coletivista, mas com um corpo de funcionários, administradores, militares, sacerdotes altamente privilegiados, além do inca, o chefe supremo.

A produção agrícola tornou-se possível graças a uma série de procedimentos técnicos desenvolvidos por essa cultura. Ampliaram a área de cultivo, nas áreas de baixo índice pluviométrico (como aquelas próximas ao litoral), com a introdução de processos de irrigação; e nas áreas altas da cordilheira, pelo uso de magníficos terraços agrícolas construídos nas vertentes, irrigados por canais controlados por funcionários imperiais.

Além disso, utilizavam o guano (acumulução de fostato de cálcio resultante de excrementos de aves marinhas. Muito abundante no litoral peruano e chileno), utilizavam como adubo, explorando como monopólio do governo na zona litorânea.

Além do grande poder de organização administrativa, desenvolvido pelo império incaico, e das técnicas de agricultura, outros fatos demonstram o nível cultural por eles alcançado:

* Trabalharam o bronze, o estanho, o cobre, a prata e o ouro, de forma superior aos astecas, e faziam ligas de metais, demonstrando possuir uma metalurgia avançada.

* Desenvolveram complexas técnicas de construção de edifícios, utilizando blocos de pedra de forma magistral. Faziam a travação dos blocos, ajustando-os uns aos outros com tal precisão que é muito difícil introduzir a lâmina de uma faca nas fendas entre eles.

* Construíram pontes, aterros, estradas e esculturas megalíticas (di-se de monumentos ou esculturas feitos de grandes blocos de pedra) de extraordinária beleza.

* Na confecção de tecidos e cerâmicas, atingiram um nível superior ao dos astecas.

* Conhecimento magnífico de astronomia. O observatório de Cuzco era o principal do império incaico, possuindo oito torres voltadas para o nascente e oito para o poente. Eram de alturas diferentes, e a sombra que projetavam informava aos observadores imperiais a exata posição da Terra e, relação ao Sol.

* Desenvolveram o calendário, baseado nos conhecimentos de astronomia. Como já dissemos antes, ao estudar as civilizações mais e asteca, o calendário era importante, pois essas sociedades tinham base agrária e, assim, dependiam de certos conhecimentos para regular as épocas de plantio e colheita. Infelizmente, pouco se sabe do calendário inca, pois a destruição do conquistador espanhol foi maior nos Andes que na Mesoamérica.

Cumpre lembrar que os incas, como també os astecas e os maias, não conheceram o ferro, o arado e a roda (esta talvez por não disporem de animais de tração no Novo Mundo). Não dispunham de cavalos, bois e carneiros. No entanto, atingiram um alto grau de civilização.

Quanto à estrutura social, era regida por uma nobreza hereditária, cujo centro era ocupado pela pessoa sagrada do inca, “o filho do sol”. Era venerado como descendente do Sol. Para manter o império e a pureza da dinastia, o governo devia desposar a sua irmã.

Após o inca, vinha a nobreza, formada por descendentes de antigos membros incas. Exerciam as funções superiores de administração do império. Em seguida, os sacerdotes, burocratas e chefes militares. Uma quarta posição era ocupada por uma população urbana de médicos, artesãos, artistas, arquitetos e funcionários administrativos. Em quinto, os mitayos, isto é, pessoas recrutadas nas comunidades rurais para realizar certos serviços (correio, soldados, mão-de-obra para edificações, serviçais da nobreza, etc.). Finalmente, a base da sociedade era constituída pelo camponês ou trabalhador agrícola.

Da mesma forma que os astecas, os maias e outros povos pré-colombianos, o império inca foi destruído com a chegada do conquistador espanhol. Imbuído do espírito salvacionista cristão e a pretexto deste, Francisco Pizarro entrou em contato com o chefe inca, Ataualpa, em 1531. Foi o início de um novo capítulo na história, marcado pela destruição de uma cultura, de assassinatos brutais e de submissão de sua população aos interesses mercantis da Espanha.

Do sec. XVI, quando teve início o desmoronamento do império incaico, até hoje, houve mudanças de colonizadores. Depois dos espanhóis, vieram os ingleses e depois destes os norte-americanos. Entretanto, poucas alterações ocorreram nas sociedades atuais, descendentes dos antigos incas, no Peru, na Bolívia e no Equador. Grandes massas de índios e de seus descendentes vivem em precárias condições sociais e econômicas.

Apesar da desarticulação da estrutura social tradicional, os descendentes dos primitivos habitantes do Altiplano Andino e de outras comunidades pré-colombianas não perderam a consciência de que são os verdadeiros donos da terra. Essa consciência é demonstrada de várias formas: na permanência de hábitos antigos de sua civilização (vestuário, alimentação e língua) e também através de reivindicações sociais e de manifestações culturais atuais, como a própria música.

Él Cóndor Pasa

En el imperio incaico
El indio está,
sin luz, sólo está
triste está.

Detrás de los silencios quedará
Jamás, nunca más volverá.

El inca ya se fue,
a morir rumbo al sol.
Y en su alma um cóndor va
a llorar su dolor volando.

Vuela, vuela el cóndor
la inmensidad sombra de la altipampa
Sueño de la raza americana
Sangre de la raza indiana

El inca ha sido traicionado,
llorando las quenas están.
La Pachamarma al coya enseña
a morir por la libertad.

(Letra e música de Daniel A. Robles)

Bibliografia:
Adas, Melhem. Geografia da América: Aspectos físicos e sociais. São Paulo: Ed. Moderna, 1982.

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