Caderno da Semana dos Povos Indígenas do COMIN
ENTREVISTAS COM KAINGANG DE PORTO ALEGRE E SÃO LEOPOLDO
ENTREVISTAS: EQUIPE DO PIDA
1. LOMBA DO PINHEIRO:
Firmino Salvador: “Estou em Porto Alegre há oito anos. Vim atrás de meu irmão, o Zílio.
Viemos de Nonoai. Na aldeia do interior do estado, o jeito é trabalhar na lavoura. É plantar. Mas a terra hoje está muito fraca. Foram mais de 30 anos de arrendamento das terras pros brancos, feito pelo SPI e a Funai. As máquinas, o adubo e o veneno acabaram com a terra. No tempo de meus pais e avós, se roçava capoeira e queimava. Hoje em dia não dá mais. Por isso vim com a família a Porto Alegre. Mas aqui vivo só da venda de artesanato. O lugar que temos na Lomba do Pinheiro é apertadinho. Às vezes fico pensando, porque estou aqui. Mas aqui também é nosso lugar. Porque todo lugar é lugar dos índios. Antes dos brancos chegar não tinha esse problema de terra”.
Pedrinho Eufrásio: “Cheguei em Porto Alegre faz 15 anos. No início tinha muito material pra artesanato nas áreas particulares. Eles deixavam tirar. Mas hoje temos que caminhar muito até encontrar cipó e taquara. A UFRGS tem uma área de mata, onde podemos colher cipós pra tecer cestas e sementes pra fazer colares. Mas não é suficiente”.
Ari Ribeiro: “Por quase 8 anos as famílias Kaingang viviam espalhadas nos Bairros da Safira, Passo Dornelles e Agronomia, Zona Leste de Porto Alegre. Tinham no artesanato a única fonte de sobrevivência. Mas esse trabalho não era reconhecido pelos brancos (não índios). Cada família se virava por conta própria e como podia. Mas onde as famílias indígenas moravam a violência era demais. Amedrontava todo mundo. Por isso começamos a nos unir para conseguir um outro lugar, onde poderíamos ficar todos juntos. Recorremos ao poder público municipal.
Começamos a participar do Orçamento Participativo (OP). Mas, no início não fomos reconhecidos como indígenas. Aí tivemos uma idéia. Formamos um grupo de dança indígena, que se apresentou numa assembléia do OP. Isso foi em 1999. Esse ato sensibilizou os conselheiros do OP, a tal ponto que em 2000 foi aprovada a proposta de compra de uma área de terra para formar um espaço Kaingang. Entre as áreas disponíveis e sugeridas, os Kaingang optaram por uma área de 3,7 hectares na Lomba do Pinheiro, Parada 26. Nesse espaço foram morar 40 famílias Kaingang. Parte delas permanece nesse local até hoje. As outras foram ocupar uma área na zona sul da capital, conhecida como Morro do Osso”.