Profissões: Diploma para Arqueologia

Duas universidades federais criam no Estado as primeiras graduações para futuros arqueólogo.

Você gosta de refletir sobre a humanidade? Tem interesse por investigação? Está disposto a buscar vestígios a céu aberto? O seu caminho pode estar na Arqueologia. A boa notícia é que não é mais preciso chegar até o pós-graduação para seguir o ofício. Duas universidades federais gaúchas criaram o curso para acelerar a formação de quem deseja encontrar testemunhos materiais da história e proteger o patrimônio cultural.

Para atender ao crescimento do mercado com as leis ambientais, os currículos se iniciam em agosto no sul do Estado, na Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Com características próprias, os currículos oferecem ao estudante diferentes perfis para a mesma formação. Por isso, antes de escolher a faculdade é preciso conferir a proposta que mais se adapta ao projeto pessoal de graduação (confira na página 2). E, para quem ficar com dois corações, ainda há uma sugestão:

– Queremos facilitar para que os alunos possam circular entre as universidades e trabalhar juntos em futuros projetos no sul do país. A arqueologia cresce dentro e fora do Brasil e os cursos traduzem a transformação do mercado na área humanística – diz Fábio Vergara Cerqueira, diretor do Instituto de Ciências Humanas da UFPel, que encerra hoje as inscrições pela internet (ces.ufpel.edu.br/vestibular).

Arqueólogo e historiador, Fábio aposta na formação do arqueólogo com o reforço da antropologia – a ciência que estuda as relações entre teorias, conceitos e métodos de investigação social. Na universidade, o curso de Arqueologia será uma habilitação do currículo de Antropologia, seguindo o modelo de universidades norte-americanas e latino-americanas. Conforme o professor, nos Estados Unidos e em outros países, essas ciências estão ligadas há aproximadamente meio século na universidade.

Na Furg, a graduação será em Arqueologia, com duas linhas temáticas que poderão ser opção do aluno: Arqueologia das Sociedades Pré-coloniais Americanas e Arqueologia do Capitalismo. Para chegar ao diploma, o aluno da Furg também terá de cumprir um mínimo de 60% da carga horária com disciplinas optativas.

– O estudante poderá escolher o que mais lhe interessa na pesquisa. O mercado está em expansão e precisamos formar profissionais. Muitos sítios estão sendo perdidos por falta do arqueólogo – diz Beatriz Thiesen, arqueóloga e coordenadora do curso da Furg.

Por Lúcia Pires

Mercado em alta

Os arqueólogos se organizam desde os anos 80 por meio da Sociedade de Arqueologia Brasileira (www.sabnet.com.br). A profissão ainda não é regulamentada (tramita na Câmara um projeto de lei), mas a atividade é fiscalizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde a década de 60. Com o surgimento das leis ambientais, a presença do profissional em processos de impacto ambiental aumentou.

Atualmente, a grande maioria dos arqueólogos atende a esse mercado, acompanhando fundações para salvar material arqueológico contratado por instituições públicas e empresas privadas. Universidades, museus e treinamento de equipes fazem parte do campo do arqueólogo que tem em sua essência a atividade da pesquisa.

Arqueologia

Onde: Universidade Federal do Rio Grande (Furg)

Duração: quatro anos

Turno: tarde

Título: bacharel em Arqueologia

Como é o currículo: oferece duas linhas temáticas: Arqueologia das Sociedades Pré-coloniais Americanas e Arqueologia do Capitalismo. Para as duas opções, há um núcleo de disciplinas de formação básica e um específico. As aulas obrigatórias de uma linha serão optativas para alunos da outra. Além disso, há um terceiro núcleo com 19 disciplinas optativas, como língua estrangeira instrumental, história do município de Rio Grande e planejamento e organização de arquivos que oferecem diferentes caminhos ao arqueólogo.

Disciplinas básicas (para todos os alunos): fundamentos de antropologia, introdução à arqueologia, introdução ao estudo da cultura material, filosofia da ciência, história antiga I, arqueologia do mundo antigo, teoria antropológica I e II, fundamentos de estratigrafia arqueológica, bioarqueologia, topografia I, arqueologia pública, botânica aplicada à arqueologia, diversidade cultural e identidade brasileira, tecnologias cerâmicas, história do pensamento arqueológico, zooarqueologia, etnohistória, técnicas de documentação arqueológica, tecnologias líticas, teorias da arqueologia I, II e III, metodologia da pesquisa arqueológica I, II e III, etnoarqueologia, gestão e conservação de bens arqueológicos, tecnologias dos vidros, metais e louças e educação patrimonial, trabalho de conclusão de curso, estágio de campo e de laboratório.

Formação específica (opção do estudante): Arqueologia das sociedades pré-coloniais americanas: geologia do quaternário, etnologia indígena, sociedades pré-coloniais americanas I e II, sociedades pré-coloniais brasileiras, sociedades pré-coloniais regionais.

Arqueologia do capitalismo: história da arte , história e cultura afro-brasileira, arqueologia do capitalismo I, II e III.

Atividades complementares: o aluno deve comprovar um mínimo de 160 horas de atividade extra-curricular na área (seminários, congressos, estágios, monitorias, publicação de artigos)

Convênios: estão sendo firmados pela universidade

Quem é o arqueólogo
O estereótipo indica uma espécie de Indiana Jones, por sua atividade de escavação em sítios arqueológicos. Mas o cotidiano profissional passa por etapas como o processamento em laboratório, estudo e publicação dos vestígios encontrados. A formação tradicional é no curso de História e no pós-graduação em Arqueologia. O profissional atua em museus e exposições, na pesquisa acadêmica em universidades e na arqueologia chamada de pesquisa de contrato. Quem escolhe essa opção é contratado por grandes empresas de engenharia civil e órgãos públicos para trabalhar em obras de infra-estrutura, como barragens e hidrelétricas na avaliação e o resgate do material arqueológico (patrimônio cultural) que está soterrado na área do projeto.

O que dizem os profissionais
A demanda está tão grande que estou precisando negar os trabalhos. O crescimento do mercado está relacionado ao desenvolvimento da economia e da construção civil. São poucas as pessoas com formação na área e as obras exigem a prospecção, o acompanhamento ou o salvamento de material arqueológico. Cerca de 80% dos arqueólogos estão atuando nessa área. Nosso desafio é lidar com as empresas, fazer com que elas conheçam o trabalho arqueológico e entender os impactos que os empreendimentos produzem.
Alberto Tavares Duarte de Oliveira, 34 anos, mestre em arqueologia e profissional autônomo

Com o doutorado, o arqueólogo pode escolher a pesquisa que faz buscando financiamento dos ministérios da Educação e da Cultura. Essa foi a minha opção. Sou professora da UFRGS no curso de História e estudo a pré-história brasileira. Busco evidências das primeiras ocupações humanas no Vale do Rio dos Sinos e no Vale do Caí. As datações mostram que elas se iniciaram há 10 mil anos. Também estudo as ocupações guaranis que são mais recentes e datam do início da Era Cristã, há 2 mil anos.
Adriana Schimit Dias, 39 anos, professora e doutora em Arqueologia

Antropologia, com habilitação em Arqueologia

– Onde: Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

– Turno: predominantemente noturno, com atividades práticas de campo e laboratório à tarde

– Duração: quatro anos

– Título: bacharel em Antropologia, com habilitação em Arqueologia

– Como é o curso: concebido para integrar a formação do antropólogo e a do arqueólogo. Os alunos terão aulas comuns nos três primeiros semestres. A partir do quarto período, podem optar pela linha de formação em Arqueologia.

– Currículo comum: introdução à antropologia e à arqueologia, introdução à filosofia, introdução à história, ciência política I, sociologia I, introdução à lingüística, antropologia social (I, II, III e IV), etnologia ameríndia I, pré-história geral I, etnologia afro-americana I, pré-história brasileira I, metodologia da pesquisa qualitativa.

– Habilitação em Arqueologia: arqueologia histórica (I e II), pré-história geral II, educação patrimonial, teoria e prática de campo (I e II), teoria arqueológica, pré-história brasileira II, teoria e prática de laboratório (I e II), cartografia e geoprocessamento, antropologia física, geologia, metodologia da pesquisa arqueológica, patrimônio arqueológico e legislação e seis disciplinas optativas (entre a oferta há arqueologia bíblica, arqueologia clássica, arqueologia de contrato, arqueologia do Oriente Próximo Antigo, Arqueologia Pré-Colombiana, mas o aluno pode buscar conhecimento em todos os departamentos da universidade). O curso se encerra com a monografia (trabalho de conclusão).

– Atividades complementares: o aluno deve comprovar um mínimo de 200 horas de atividade extra-curricular na área (seminários, congressos, pesquisas ou estágios)

– Convênios: Instituto Politécnico de Tomar (Portugal) e parceria interinstitucional em projetos pontuais com o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP). Estão sendo firmados convênios com os setores de arqueologia da Universidade de la Republica Oriental del Uruguai (Udelar) e com a Oficina del Historiador de la Habana (Cuba).

Fonte: Zero Hora
www.universitario.com.b

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *