SID 7 anos – Alunos da UnB recebem aulas de congado com mestre da cultura popular de São Paulo

José Jerome

Mestre José Jerome e o contra mestre Benedito Antonio, aula do Encontro dos Saberes, na UnB. (Foto: Leonardo Fontes)

“Eu estou muito feliz, muito feliz mesmo!”. Dessa forma mestre Zé Jerome definiu suas aulas no Projeto Encontro dos Saberes que acontece na Universidade de Brasília (UnB). Zé Jerome é um dos cinco mestres de cultura popular do Projeto que busca a troca de saberes entre a academia e a cultura popular. Aos 76 anos de idade, 70 só de Congado de Moçambique, o mestre veio de Cunha (SP) para dar aulas durante duas semanas na UnB na disciplina Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais.

Junto com ele veio o contra-mestre, Benedito Antonio, seu irmão, de 80 anos, sua filha Laura Divino, que não dança, seu neto Mateus Borges, de 12 anos, e mais dois integrantes do grupo. “Os meninos estão aprendendo rápido, nem esperava que eles aprendessem”, diz o mestre satisfeito sobre seus novos alunos.

O grupo de Congado de Moçambique de Cunha tem 26 integrantes, o mais novo tem 15 anos, mas a maioria tem mais de 50. “Tem aula todo domingo no pátio da igreja de São José. Meu sonho era ter um galpão, um espaço para o grupo, mas a gente vai se virando como pode, o importante é a cultura não se acabar”.

O mestre conta que a primeira vez que pegou um apito tinha 10 anos, ganhou de seu tio materno, um grande mestre de Congado e que, antes de falecer, pediu a Zé Jerome que continuasse seu trabalho. “Quando a gente recebe o apito, recebe também a responsabilidade, precisa saber as músicas. É o apito que manda”, revela o mestre e diz que já avisa aos congueiros que precisará passar o apito. “Eu ainda quero viver muito, mas não vou viver para sempre”. Mateus, seu neto, é o príncipe que carrega o estandarte, que já tem 150 anos.

Maria Vitória Dutra, do curso de antropologia e Edcarlos Ulapha, engenheiro mecânico e aluno especial da UnB, aprovam a iniciativa. “É a melhor coisa que poderia acontecer na UnB e acho que tinha quer ser obrigatório para todos os cursos. O que estamos recebendo é informação ancestral”, diz Edcarlos. Maria Vitória acha que o tempo é pouco e acredita que isso descentraliza o conhecimento na universidade. “É outra forma de sabedoria”.

Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais

O Encontro de Saberes é um projeto piloto que busca o diálogo sistemático entre os saberes acadêmicos e os saberes indígenas, afro-brasileiros, populares e de outras comunidades tradicionais e levou para as salas de aula UnB mestres de artes e ofícios populares para ministrarem aulas na disciplina Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais.

A disciplina foi ofertada no segundo semestre de 2010 dentro da grade regular da graduação da universidade. Os professores foram Biu Alexandre, mestre de teatro popular de Cavalo Marinho, de Pernambuco; Lucely Pio, mestra raizeira quilombola do estado de Goiás, ligada à Articulação Pacari de Plantas Medicinais do Cerrado e o mestre Benki Ashaninka, representante do povo ashaninka do Acre, que desenvolve um trabalho de conhecimento da floresta comprometido com a proteção ambiental. As aulas de mestre Zé Jerome encerra na segunda-feira, dia 22 e quem encerra a disciplina é o mestre Maniwa Kamayurá, representante dos povos indígenas do Alto Xingu, especialista em construção da residência tradicional kamayurá. Cada mestre foi acompanhado por um professor da UnB.

O projeto é uma parceria do Ministério da Cultura, por meio da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID/MinC), do Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC) e da Universidade de Brasília. E conta com a parceria do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa, órgão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Fonte: www.cultura.gov.br

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *