Maria Cristina Caminha de Castilhos França
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil
LOPES DA SILVA, Aracy; NUNES, Ângela; MACEDO, Ana Vera Lopes da Silva (Org.). Crianças indígenas: ensaios antropológicos. São Paulo: Global, 2002. 280 p. (Coleção Antropologia e Educação).
Este livro, composto por ensaios de estudiosos que atuam ou atuaram no Grupo de Educação Indígena (MARI), do Departamento de Antropologia da USP, propõe trazer à luz as reflexões sobre a infância nas sociedades indígenas, buscando rever os fundamentos epistemológicos que norteiam as escassas atenções atribuídas pelas pesquisas etnológicas sobre a infância nas sociedades indígenas brasileiras. O eixo que reúne esses ensaios diz respeito à preocupação com os processos cognitivos e com os processos sociais de ensino-aprendizagem, sobre os quais as crianças experimentam e expressam a vida social. Nesse sentido, as organizadoras acreditam que a contribuição efetiva da antropologia da criança indígena no Brasil na construção de um referencial teórico, irá ao encontro das inúmeras questões bem como das respostas, ambas emergentes das discussões em torno da educação escolar indígena.
A organização desta obra foi fruto de uma árdua empreitada, que prescindiu o auxílio e a dedicação de muitas pessoas. O término do livro foi impulsionado pelo exemplo de garra e competência, sempre reconhecido, mas tristemente vivenciado pela falta de uma das organizadoras, Aracy Lopes da Silva.
Na introdução “Contribuições na etnologia indígena brasileira à antropologia da criança”, Aracy Lopes da Silva e Ângela Nunes oferecem ao leitor uma visão constitutiva da organização dos ensaios e artigos presentes, reunidos no volume em questão, bem como a emergência da abordagem dos temas relativos à concepção da infância e aos processos de aprendizagem na vida social dos povos indígenas. Há, inicialmente, uma revisão dos primeiros estudos até as mais recentes discussões de caráter mundial, complementada pela perspectiva brasileira, com o sentido de reforçar o campo de investigação sobre as crianças, nos estudos e reflexões das ciências sociais. O desenvolvimento de um paradigma para o estudo da infância ao final do século XX cooptou pesquisadores que passaram a se dedicar a essa categoria social, na qual conceitos como socialização foram revisados trazendo novas condições de renovação do interesse pela criança na pesquisa antropológica.