Tradução e resumo do capítulo Alimentos de los charruas y demas parcialidades do livro La Nacion Charrua – Rodolfo Maruca Sosa
Por: Cátia Simone Silva
A flora indígena do Uruguay ainda que abundante, foi aproveitada só em parte por seus primitivos habitantes, conhecendo algumas variedades de vegetais com utilidade alimentícia e terapêutica, também possuíam variada e rica fauna.
Nas margens dos rios existiam abundantes lenhas, as quais acendiam de diversas maneiras, e armavam o fogo juntando de três a quatro pedras bem grandes.
Os índios eram fortes, resistiam à fome e a sede. A água tinham em abundância, quando se achavam distantes dela, recorriam a frutas silvestres ou raízes para acabar a sede. Segundo informação de Schmidel e Setembrino Pereda, gostavam de tomar o sangue do cervo chupando-o diretamente de um corte que faziam no couro do animal.
Grande parte de sua vida dedicavam a caça e a pesca, empregando para isso sua destreza no uso das flechas e outros métodos surgidos de sua imaginação, como: armadilha de atar, de ramas, etc. Pescavam várias espécies de peixes pirayú, dourado, patí,… (os nomes são em guarani).
Os chanás se haviam reduzido a Isla do Vizcaíno e seus arredores, transformando-se bons pescadores recorrendo nos Rios Uruguay e Negro, sendo um dos seus melhores alimentos, além de ostras. Ao contrário, os charruas com mais campo de ação pescavam menos, não desprezando moluscos de água salgada, mas caçavam grande quantidade de animais, estavam sempre na espreita para qualquer eventualidade e dispostos a lutar corpo a corpo com pumas ou yaguaretés se assim tocava a sorte.
Não foram agricultores, desconheciam em absoluto esta prática, parece que os charruas e demais parcialidades não conheciam soníferos, ignoravam também o uso do sal, ainda é provável que muitas tribos que foram vizinhas da Argentina, Paraguai e Brasil não desconheceram o uso do pó para ingerir nas fossas nazais. Determinado pelos achados de peças líticas de usos em rituais, com concavidades ou morteiro cujo uso não foram determinados com precisão, mas que relacionados com peças análogas de outras zonas do Norte, bem podiam haverem utilizado os índios para colocar substâncias similares por puro vício, já que eram afetados a todas as práticas estranhas a seus uso e costumes.
Saborearam o mel da abelha mechiguana, a qual misturando com água resulta uma forma agradável, e fermentada obtém forte teor alcoólico.
Todos os historiadores, salvo exceções estão de acordo que os índios do Uruguay não foram antropófagos, pois havia abundância alimentar nutritiva, os quais as descobertas arqueológicas confirmam os ossos encontrados nas urnas e túmulos funerários que denotam incisões, são marcas deixadas por lanças usadas em lutas, ou por instrumentos cortantes como os raspadores…
Alguns conheceram o fumo e outra planta, obtidos dos “tupi-guaranis”. Abusavam da aguardente e do fumo. Se adquirissem erva-mate a usavam dentro de uma espécie de taça feita com um porongo e ocupando com pouca água, iam passando na roda. Cada um tomava um gole, com o que introduzia muita erva e estavam mastigando-a até que acabava sem gosto nem cor, sendo a sua bebida preferida e usada até hoje na campanha (Caá), preparado com a erva-mate e tomado em infusão.
O uso da erva-mate foi usada pouco antes da conquista, porém o autor acha que os charruas que possuem o hábito nos últimos tempos, no período da conquista não. Os guaranis faziam duas classes de erva-mate: uma que exportavam para os espanhóis outra mais fina a Caá-miní preparada pelos índios das missões. O seu uso substituía até mesmo outros alimentos, pois de três em três horas tomavam um ou dois mates.
Este foi um dos procedimentos usados no pagamento com os índios reduzidos. Também gostavam de licores fortes, feitos com cana-de-açúcar, macerados e fermentados, assim com a infusão da erva-mate.
A presença de material lítico como utensílios de barro, com substâncias graxas negras depositados em seu exterior, confirmam a utilização das peças maiores para cozinhar e as menores para ajudar a ingerir os alimentos.
Na preparação da comida o sistema mais comum era o assado, tinham suas variedades, pois o faziam ao rescaldo ou empregando o espeto ou a grelha, espécie de grelha de ferro de paus duros, procedimento comuns dos charruas e dos guaranis, outro procedimento era o cozer o alimento envolto em folhas. Comiam ovos de avestruzes, perdizes e jacarés.
Tudo faz presumir que não domesticaram animais, apenas cachorros selvagens, os caninos se aproximaram das populações e se adaptaram. Os espanhóis também trouxeram cachorros domesticados da Europa os quais se reproduziram, disseminando-se pelo território.
O Prof. Agustín Teisscire no ano de 1920, encontrou na praia do Real de San Carlos, Departameto de Colonia, um material trabalhado em barro cozido muito raro, denominados “pendeloques”, o qual foi considerado material arqueológico ao Museu Nal. De Historia Natural de Montevideo, eram peças fabricadas por portugueses ou indígenas dirigidos por portugueses, seu destino seria para colocar em redes de arraste, forma ovóide a redonda, nenhuma passa do tamanho de uma mão pequena.
A dúvida do autor é se os charruas usavam redes? Não conhecendo o costume dos aborígenes para contestar, mas em todo caso, trata-se dos primitivos habitantes destas regiões ou dos descendentes dos mesmos, é dizer que tiveram contato com a civilização, e é objeto arqueológico, pois nenhuma pessoa que o autor interrogou, conheciam estes objetos. O autor acha que a prática de pescar com redes, foi copiada dos “querandies”, vizinhos de outra banda do Rio com quem tinham afinidade e contato através do Rio Uruguay.
Sosa comenta que os índios gostavam de peixe e que os obtinham quando os avistavam a cerca da costa e a transparência da água o permitia. Então com flechas ou se eram grandes com lanças, lhes pescavam. É possível também que utilizavam os mesmos sistemas que estão em uso em outras regiões da América, como raízes de propriedades narcóticas trituradas, no Uruguay, usariam as raízes de “timbó”, porém o autor não tem confirmação.
Na zona rioplatense, nos departamentos de Colonia e San José, quando sopra o “pampero” ou ”sul”, inverte a corrente natural dos arroios e ao produzir este fenômeno entra neles os cardumes de peixes como dourados, bagres, pacu,… chegando até os cursos médios e superiores dos tributários do Prata. Devido a esse fenômeno, às vezes cresce até um metro em 24 horas. Nessa oportunidade de grande alça aproveitam os pescadores para cortar o curso das águas. Ao produzir-se a baixa pelo cessar do vento, descem os peixes a favor da corrente ficando nas malhas, e quando as águas voltam ao seu curso normal, os peixes ficam em solo seco.
Tudo isto pode haver sucedido, mas o que ainda não se prova, é que praticaram a pesca com rede de arraste, apesar de conhecer o uso de vegetais têxteis, como a fibra de caraguatá.
Então a quem devemos essas peças denominadas “pendeloques”? O autor perguntou a uns pescadores do Vigo, e todos disseram que usam peças de chumbo, e que este uso se dava a perder a memória. E que a zona do Atlântico Norte, incluindo as costas portuguesas, não conheciam o uso de peças de outra classe.
Em novembro de 1953 o Prof. Victor Berlán, na Bahia de Copacabana, avistou uma embarcação talhada em um tronco de árvore com proa e popa levantada, foi conversar com os pescadores, estes usavam em suas redes, as mesmas peças que foram encontradas na Bahia de Colonia que suponham serem fabricadas por indígenas que habitavam aquela zona. No entanto a embarcação era de Florianópolis e os pesos eram fabricados em uma fábrica de telhas e eram de uso comum entre os pescadores das costas do Brasil.
Não foi possível trazer para fazer comparação com as encontradas no Uruguay, porém o conhecimento das peças das coleções de Francisco Oliveiras… assim como a de seu pertence, lhe permitem afirmar a similaridade das mesmas com as observadas em Rio de Janeiro, tanto pela forma, dimensões, peso e demais caracteres, assim como pelo tipo de condição mais acabamento das mesmas.
Ainda informou o Prof. Escardó que no Brasil atualmente a pesca científica vai desprezando lentamente os procedimentos tradicionais de pesca. Pensa que sendo Colonia do Sacramento uma cidade de origem e baixo domínio português durante o delatado lapso de tempo, o uso destas peças para redes em Colonia e no Brasil nos devem fazer pensar em uma origem comum português, e nesse sentido se devem dirigir as investigações.
Ultimamente pode-se constatar que na atualidade, nas praias brasileiras, usam umas peças para redes fabricadas com cimento, mede uns sete centímetros de largura, forma ovóide, ligeiramente achatada, com o típico furo das “pendeloques”.
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